terça-feira, 20 de abril de 2010

Música - Muse - The Resistance


Como já li outra vez, em outra crítica, o Muse é a banda perfeita pra se odiar. Pretenciosos, experimentais, forçando música clássica no meio das guitarras... realmente, muito fácil odiar. O problema é que eles lançam um disco melhor que o outro.
O mais legal de descobrir The Resistance foi que estava sendo preparado bem na época que descobri a banda. Viajava com o primeirão, Showbizz, o segundo, Origin of Symetry (comentado aqui), o fodaço Absolution e o premiado Black Holes and Revelations. Assim que a primeira amostra de The Resistance saiu, a primeira faixa, Uprising, foi paixão a primeira vista. A batida militar mesclada ao baixo oscilante cravou logo de cara, mesmo sendo claramente uma nova experimentação. Sintetizadores oitentistas marcam o riff principal enquanto as guitarras não entram - quando entram, já eras, você já estava cantando o refrão com toda força: "eles não vão nos forçar, eles vão parar de nos degradar, eles não vao nos controlar, nós seremos vitoriosos!"
O cunho político/apocalipse pós-moderno já vinha sendo explorado desde Absolution. O vocalista, Matthew Bellamy, parece ter uma queda pelo tema. Claro que as canções de amor persistem, bom exemplo é a própria faixa título, Resistance, que começa com ecos à lá Pink Floyd e desemboca em um mini (e genial) tributo ao Queen, grande influência nesse disco.
É inegável que Matt seja um músico excepcional que adora flertar com a música clássica em seus ótimos rocks. O Muse em si é uma banda muito boa que só não recebe muita atenção por ser bastante derivada - eles fazem um som do caramba, mas todas (ou quase todas) as músicas remetem a outra banda. Você nunca vê alguém dizer que uma música lembra Muse, desde o começo, que foram taxados como cópias do Radiohead, até agora, depois de muita evolução. O que de forma alguma é um demérito - diga outra banda que fez uma sinfonia de três partes misturando violinos e vioncelos com guitarra distorcida e falsetes absurdos? O trio tem sua personalidade.
Aqui vamos nós ao faixa-a-faixa:
1 - Uprising - Abre o disco brilhantemente, hit certeiro. Fala sobre paranóia, vitória e resistência, dando uma idéia dos próximos quarenta minutos de música a seguir. O solo grunge antes do último vibrante refrão já é o suficiente para deixar ligado.
2 - Resistance - A faixa título surpreende. Começa com vinte segundos de guitarra cheia de ecos, vianjando no Pink Floyd, muda para versos ansiosos e um pré-refrão que genial com a cara do Queen. Épica.
3 - Undisclosed Desires - A que mais me pegou pelos trinta segundos de prévia disponibilizados no site da banda pouco antes do lançamento. É diferente de tudo que a banda já fez, lembra Depeche Mode, sem guitarras. Identifiquei algo muito pessoal nessa música, como se eu sempre a tivesse escondida em algum lugar na cabeça, mas Matt que a trouxe à superfície. Vai entender. Ah, e a canção é ótima.
4 - United States of Eurasia+Collateral Damage - O título deixa mais do que claro o tema político. "Por que separar esses Estados se eles só podem ser um?" canta ferozmente sob uma guitarra e batera no mais óbvio tributo à Queen que já ouvi. Simplesmente não tem como não lembrar. Mais uma vez, pegam pesado na experimentação, brincando com piano clássico e violinos, mas a guitarra está ali também. Quando termina, a canção emenda em Collateral Damage, faixa instrumental que faz um mini cover de... esqueci o nome do cara, mas é famoso no mundo clássico. Ao fundo, sons de crianças brincando, enquanto jatos voam sobre suas cabeças. O jato chega cada vez mais perto, até que não se ouvem mais crianças. Eeee...
5 - Guiding Light - Bateria marcante, sintetizadores românticos e poderosos. Lembra uma daquelas baladas que bandas de Metal faziam nos anos 80. A guitarra chega chegando, mostrando mais uma vez a facilidade com que Matt desvenda esses riffs simples mas grudentos. É a quinta música e o nível não cai.
6 - Unnatural Selection - Órgãos. Sei lá por quê, O Fantasma da Ópera vem à cabeça, mas só por uns segundos. A guitarra dessa vez é a alma da faixa, num riff tão furioso quanto o de New Born. A paulera parece não aliviar, mas daí, o ritmo sofre uma mudança brusca, fica mais lento, num clima sonhador. Matt brinca com microfonias, como se improvisasse. Talvez essa parte lenta demore mais do que deveria. Assim que você esqueceu o quanto a música estava pesada, o riff do começo volta rasgando e tudo termina num satisfatório quebra pau.
7 - MK Ultra - Uma mistura de Plug In Baby com The Small Print (ou Tsp). Tanto é pesada quanto leve. Tão líricamente linda quanto violenta. O riff principal é de uma beleza cortante, assim como os versos. "Um universo preso dentro de uma lágrima", ele canta. A melhor do disco na minha opinião.
8 - I Belong To You - A mais fraquinha do disco. Não é ruim, mas é longa demais e destoa do resto do álbum. Ainda mais próxima do R&B que Supermassive Black Hole, tem direito até a um bem colocado solo de... clarinete. A versão remixada para o filme Lua Nova não é tão radical, mas é melhor.
9 - Exogenesis Part I Overture - Começou a tão esperada sinfonia. Exogenesis é o nome de uma teoria de criação do universo, de que a vida surgiu em algum lugar no universo e eventualmente chegou ao nosso planeta Terra (Exo = de fora, Genesis = Origem). Só isso já dá um ranço épico ao todo. Começa com violinos tensos, crescendo ao fundo, enquanto o som vai ficando mais denso. Logo vem a batida, o grave lembrando um coração batendo, o agudo com eco, como se estivesse se dissipando para o infinito. Matt canta em falsete quase o tempo todo, dizendo que não consegue perdoar. Murmura de forma quase ininteligível "quem somos, o que somos, onde estamos". Sugere o começo de tudo, ou o fim.
10 - Exogenesis Part II Cross Pollination - Esta segunda parte é mais agressiva e direta. O início poderia ser facilmente confundido com uma sinfonia das raízes da música clássica pelos desavisados, mas assim que Matt entra, não há duvida que é Muse. O refrão é poderoso, criando uma empatia com o ouvinte, como se a mensagem fosse diretamente para nós (será que não é?): "Espalhe nossos códigos às estrelas, você deve nos resgatar, diga-nos seu útimo desejo, agora que sabe que nunca poderá voltar". E você não volta.
11 - Exogenesis Part III Redemption - A mais bela. A calmaria se percebe desde o começo, com o piano tranquilo, levemente reverbado (efeito melhor percebido com fones), clamando por lágrimas sinceras. Pacientemente, a aura de tranquilidade se constrói, ficando sólida, e então, cantam junto: "Vamos começar de novo, por que não começar de novo? Vai ser bom...".

Acaba. Parece que um filme terminou. Só escutando com atenção para listar a quantidade de emoções que se passam nestas últimas três faixas. A própria banda brinca, dizendo que há tempos lançam sinfonias de 50 minutos, não álbuns.
The Resistance é um disco fácil de escutar, mesmo que a sinfonia e o apelo clássico intimide de cara. Assim como eu, talvez você se encontre baixando Mozart um dia.
Nota: 8,5/10

OBS: Destaque para a linda magnífica grandiosa capa, que chegou a ganhar prêmios. Até coloquei maior (risos).

As três primeiras faixas pra vocês (em ordem):
Uprising:


Resistance:


Undisclosed Desires:

2 comentários:

  1. Eu sou suspeita!!! Sou fã do Muse desde o início da carreira. E só discordei do seu comentário sobre I belong to you, tenho outra visão sobre ela. toh seguindo! beijos

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