quinta-feira, 29 de abril de 2010

ig.no.rân.cia


Não é novidade para ninguém que a mulher tem o físico mais fraco que o homem, o que não a torna de forma alguma "mais fraca". Por muitos e muitos anos anos foi assim, sempre será. A maioria dos preconceitos tem a ver com as crenças ou religiões mesmo, pois mesmo no livro mais vendido do mundo, a Bíblia, a mulher deve se considerar inferior ao homem, sendo obediente e ponto (um dos motivos que me fez desistir totalmente da religião).
A meu ver, homem e mulher, independente de suas diferenças biológicas, devem ter direitos iguais. São seres humanos, o sexo não muda isso. Cuidado, mulher dirigindo? Por favor, quantos milhões de homens fazem coisas piores todos os dias?
Outro absurdo é o estereótipo de dona de casa - mulher só serve pra limpar a casa e cozinhar? Bom, se um homem não sabe fazer essas simples tarefas, não tem nem o direito de pensar em se achar o superior. Se John (nome exemplar - sem preconceitos) me diz que precisa de uma garota pra lavar as roupas e comprar/fazer comida, me desculpe John, mas você é imbecil? Não sabe esfregar, não sabe ler as placas até a prateleira certa, não sabe pesquisar naquela nova tecnologia, a internet, como colocar arroz e feijão na panela e ligar o fogão? Mesmo assim, John mantém a postura "eu sou macho". Palmas pra ele, todo mundo batendo palmas.

Os dois sexos parecem ter adquirido suas características de forma que se completassem. O homem é a mulher foram feitos para se completarem, para viverem juntos, ou numa expressão que remete aos tempos primitivos, a sobreviverem juntos.
É do passado esse negócio de ser "macho". Não passa de um estereótipo brincalhão, que quando levado a sério, torna-se uma piada óbvia e sem graça.
Convenhamos, o politicamente correto é um saco. Qualquer piada que envolva qualquer tipo de preconceito, por mais inocente que seja, traz uma série de discussões e pensamentos a respeito do passado, presente e futuro da sociedade. É um saco. Não há escapatória das substituições típicas das conversas do dia-a-dia: Negro vira nego. Homosexual vira viado ou bicha. Mulher fácil vira vaca, galinha, vadia, etc. Seria utopia pensar que um dia isso mudaria, pois quase sete bilhões de pessoas não são tão facilmente influenciáveis assim, na verdade, muitas morrem ignorantes.

ig.no.rân.cia
sf (lat ignorantia) 1 Afirmar que mulher é inferior.

Piadinha. Cada um é cada um, mas a natureza do ser humano é viver com um par. O que seríamos de nós homens sem as mulheres?
Dessa vez sem piadas.

Novo visual, novos modos

O blog tava meio relaxado.
Finalmente dei um jeito nele, acho que finalmente também reanimando minha vontade de escrever nele - eu andava meio viajão mesmo.

Lá vamos nós de novo \o/

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Conto sobre ligações

Tu, tu, tu.
Ao decorrer da curta ligação, havia encostado-se na parede, deixando-se escorregar até sentar no chão. Lentamente distancia o telefone do ouvido, até segurá-lo relaxadamente com o pulso apoiado no joelho erguido. Sente que está muito distante, fora desse mundo. O barulhinho repetitivo ainda soa, também parecendo mais distante e quieto. Finalmente pousa o telefone no gancho, mas fica sentado mais alguns longos segundos.
A imagem é plasticamente perfeita, o rapaz sentado perto da porta de um quarto, iluminado pela luz do sol que forçou seu caminho entre as nuvens cinzas do dia chuvoso. Uma foto viria a calhar, para capturar aquele momento antes que sumisse para sempre.
Mesmo dois minutos depois de ter desligado, de volta ao que estava fazendo antes que o telefone tocasse, ouvia a sílaba repetitiva em sua cabeça. As reviravoltas sempre vem sem avisar, pensava.
À partir do momento que levantou daquele chão frio, seguiu com sua vida. Amou muito, sorriu muito, sonhou muito. Era tudo que queria. Raro um minuto fazer diferença nos tantos anos de uma vida, mais raro ainda tal minuto durar para sempre.

Em seu último dia, sentiu que estava partindo. Há tempos estava sentindo-se cansado, até que ao deitar, entregou-se à dona morte. Resolveu despedir-se do mundo. Despediu-se das árvores, do vento, das estrelas. Especialmente, sem pressa, despediu-se da garota, a eterna garota.

De olhos fechados, rapidamente focou e reviveu, com nitidez incrível, aquele momento onde tudo mudou. Jurou ter escutado novamente, muito longe, aquele tu, tu, tu, antes que adentrasse profundamente no sono infinito.

--

Comentários adicionais: Bom, fiquei na dúvida sobre o que era esse pequeno conto que me surgiu hoje à tarde. É sobre pequenos momentos? Sobre ligações perdidas (não apenas telefônicas digo)? É sobre alguma coisa. Creio que seja mesmo sobre pequenos momentos, pois a maioria dos dias do ano são esquecíveis, ninguém lembra de um dia inteiro. Lembramos de momentos, são o que valem afinal. No fim, tudo pode valer a pena, talvez, por um único momento especial. Sonhador, eu? Deu pra perceber (risos)?

Meu tempo...

Como um elástico,
meu tempo se estica,
facilmente alongando-se,
até o extremo,
ali segurado.

O afeto é posto à prova,
inseguro e confuso,
nunca diminui.

Há medo,
medo que acabe,
que haja um fim.

Com a certeza de sua palavra,
o elástico é solto,
o tempo volta ao começo,
somos um novamente.

É nesse segundo que o tempo para.
Não importa mais.

A simetria do universo muda,
tudo gira em torno de um ponto.

A distância é grande,
mas consigo ver que meu universo,
minha existência,
gira em torno da sua.

Saudades alongam minha vida,
suas palavras tornam as minhas irrelevantes.

Felicidade que é sua vinda,
cada olhar iluminando os meses e as horas.

Tenho certeza que a água molha,
que o fogo queima,
que o vento leva,
assim como tenho certeza que você é a origem da minha simetria.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Música - Muse - The Resistance


Como já li outra vez, em outra crítica, o Muse é a banda perfeita pra se odiar. Pretenciosos, experimentais, forçando música clássica no meio das guitarras... realmente, muito fácil odiar. O problema é que eles lançam um disco melhor que o outro.
O mais legal de descobrir The Resistance foi que estava sendo preparado bem na época que descobri a banda. Viajava com o primeirão, Showbizz, o segundo, Origin of Symetry (comentado aqui), o fodaço Absolution e o premiado Black Holes and Revelations. Assim que a primeira amostra de The Resistance saiu, a primeira faixa, Uprising, foi paixão a primeira vista. A batida militar mesclada ao baixo oscilante cravou logo de cara, mesmo sendo claramente uma nova experimentação. Sintetizadores oitentistas marcam o riff principal enquanto as guitarras não entram - quando entram, já eras, você já estava cantando o refrão com toda força: "eles não vão nos forçar, eles vão parar de nos degradar, eles não vao nos controlar, nós seremos vitoriosos!"
O cunho político/apocalipse pós-moderno já vinha sendo explorado desde Absolution. O vocalista, Matthew Bellamy, parece ter uma queda pelo tema. Claro que as canções de amor persistem, bom exemplo é a própria faixa título, Resistance, que começa com ecos à lá Pink Floyd e desemboca em um mini (e genial) tributo ao Queen, grande influência nesse disco.
É inegável que Matt seja um músico excepcional que adora flertar com a música clássica em seus ótimos rocks. O Muse em si é uma banda muito boa que só não recebe muita atenção por ser bastante derivada - eles fazem um som do caramba, mas todas (ou quase todas) as músicas remetem a outra banda. Você nunca vê alguém dizer que uma música lembra Muse, desde o começo, que foram taxados como cópias do Radiohead, até agora, depois de muita evolução. O que de forma alguma é um demérito - diga outra banda que fez uma sinfonia de três partes misturando violinos e vioncelos com guitarra distorcida e falsetes absurdos? O trio tem sua personalidade.
Aqui vamos nós ao faixa-a-faixa:
1 - Uprising - Abre o disco brilhantemente, hit certeiro. Fala sobre paranóia, vitória e resistência, dando uma idéia dos próximos quarenta minutos de música a seguir. O solo grunge antes do último vibrante refrão já é o suficiente para deixar ligado.
2 - Resistance - A faixa título surpreende. Começa com vinte segundos de guitarra cheia de ecos, vianjando no Pink Floyd, muda para versos ansiosos e um pré-refrão que genial com a cara do Queen. Épica.
3 - Undisclosed Desires - A que mais me pegou pelos trinta segundos de prévia disponibilizados no site da banda pouco antes do lançamento. É diferente de tudo que a banda já fez, lembra Depeche Mode, sem guitarras. Identifiquei algo muito pessoal nessa música, como se eu sempre a tivesse escondida em algum lugar na cabeça, mas Matt que a trouxe à superfície. Vai entender. Ah, e a canção é ótima.
4 - United States of Eurasia+Collateral Damage - O título deixa mais do que claro o tema político. "Por que separar esses Estados se eles só podem ser um?" canta ferozmente sob uma guitarra e batera no mais óbvio tributo à Queen que já ouvi. Simplesmente não tem como não lembrar. Mais uma vez, pegam pesado na experimentação, brincando com piano clássico e violinos, mas a guitarra está ali também. Quando termina, a canção emenda em Collateral Damage, faixa instrumental que faz um mini cover de... esqueci o nome do cara, mas é famoso no mundo clássico. Ao fundo, sons de crianças brincando, enquanto jatos voam sobre suas cabeças. O jato chega cada vez mais perto, até que não se ouvem mais crianças. Eeee...
5 - Guiding Light - Bateria marcante, sintetizadores românticos e poderosos. Lembra uma daquelas baladas que bandas de Metal faziam nos anos 80. A guitarra chega chegando, mostrando mais uma vez a facilidade com que Matt desvenda esses riffs simples mas grudentos. É a quinta música e o nível não cai.
6 - Unnatural Selection - Órgãos. Sei lá por quê, O Fantasma da Ópera vem à cabeça, mas só por uns segundos. A guitarra dessa vez é a alma da faixa, num riff tão furioso quanto o de New Born. A paulera parece não aliviar, mas daí, o ritmo sofre uma mudança brusca, fica mais lento, num clima sonhador. Matt brinca com microfonias, como se improvisasse. Talvez essa parte lenta demore mais do que deveria. Assim que você esqueceu o quanto a música estava pesada, o riff do começo volta rasgando e tudo termina num satisfatório quebra pau.
7 - MK Ultra - Uma mistura de Plug In Baby com The Small Print (ou Tsp). Tanto é pesada quanto leve. Tão líricamente linda quanto violenta. O riff principal é de uma beleza cortante, assim como os versos. "Um universo preso dentro de uma lágrima", ele canta. A melhor do disco na minha opinião.
8 - I Belong To You - A mais fraquinha do disco. Não é ruim, mas é longa demais e destoa do resto do álbum. Ainda mais próxima do R&B que Supermassive Black Hole, tem direito até a um bem colocado solo de... clarinete. A versão remixada para o filme Lua Nova não é tão radical, mas é melhor.
9 - Exogenesis Part I Overture - Começou a tão esperada sinfonia. Exogenesis é o nome de uma teoria de criação do universo, de que a vida surgiu em algum lugar no universo e eventualmente chegou ao nosso planeta Terra (Exo = de fora, Genesis = Origem). Só isso já dá um ranço épico ao todo. Começa com violinos tensos, crescendo ao fundo, enquanto o som vai ficando mais denso. Logo vem a batida, o grave lembrando um coração batendo, o agudo com eco, como se estivesse se dissipando para o infinito. Matt canta em falsete quase o tempo todo, dizendo que não consegue perdoar. Murmura de forma quase ininteligível "quem somos, o que somos, onde estamos". Sugere o começo de tudo, ou o fim.
10 - Exogenesis Part II Cross Pollination - Esta segunda parte é mais agressiva e direta. O início poderia ser facilmente confundido com uma sinfonia das raízes da música clássica pelos desavisados, mas assim que Matt entra, não há duvida que é Muse. O refrão é poderoso, criando uma empatia com o ouvinte, como se a mensagem fosse diretamente para nós (será que não é?): "Espalhe nossos códigos às estrelas, você deve nos resgatar, diga-nos seu útimo desejo, agora que sabe que nunca poderá voltar". E você não volta.
11 - Exogenesis Part III Redemption - A mais bela. A calmaria se percebe desde o começo, com o piano tranquilo, levemente reverbado (efeito melhor percebido com fones), clamando por lágrimas sinceras. Pacientemente, a aura de tranquilidade se constrói, ficando sólida, e então, cantam junto: "Vamos começar de novo, por que não começar de novo? Vai ser bom...".

Acaba. Parece que um filme terminou. Só escutando com atenção para listar a quantidade de emoções que se passam nestas últimas três faixas. A própria banda brinca, dizendo que há tempos lançam sinfonias de 50 minutos, não álbuns.
The Resistance é um disco fácil de escutar, mesmo que a sinfonia e o apelo clássico intimide de cara. Assim como eu, talvez você se encontre baixando Mozart um dia.
Nota: 8,5/10

OBS: Destaque para a linda magnífica grandiosa capa, que chegou a ganhar prêmios. Até coloquei maior (risos).

As três primeiras faixas pra vocês (em ordem):
Uprising:


Resistance:


Undisclosed Desires:

domingo, 18 de abril de 2010

Música - Radiohead - Kid A

OBS: esperam que leiam tudo, deu muito trabalho pra fazer ><

Demorou para eu escrever sobre esse disco. A ironia é que já o escutei (todo de uma vez só) pelo menos umas vinte vezes, literalmente. Teriam sido mais, se não fosse tão difícil deitar para comtemplar uma obra prima dessas sem interrupções. Mas tudo bem, lá vamos nós.
Antes de qualquer coisa, saiba que Kid A não é um disco fácil. Radiohead não é uma banda fácil. Mas imploro que lhes deem uma chance, porque o Radiohead é uma banda para quem gosta de inovação constante, para quem gosta de algo diferente a cada audição, para quem ama escutar uma música e se imaginar em algum lugar, por pior que seja tal lugar.

Voltando um álbum, temos OK Computer. Você já deve ter escutado várias músicas desse álbum sem perceber, pois deve ser o favorito do pessoal que faz a trilha dos jornais da Globo. Até no BBB já tocou mais de uma vez. Esse álbum foi o terceiro da banda, o que lhes deu fama global como a maior banda de rock da atualidade, e, consequentemente, o que lhes fez olhar para a fama e perceber o quanto a odiavam. Thom Yorke, o vocalista, disse uma vez que o final do ano de 1998 foi um dos pontos mais baixos de sua vida. A extensa turnê de divulgação, com quase 300 shows no total, acabou por cansar física e emocionalmente toda a banda.
Pausa.
Nessa turnê, tudo foi documentado pela diretor de um de seus videoclipes (No Surprises). Vemos o baixista desabando de choro durante uma entrevista, mas ainda mais emblemático é a cena que Thom Yorke ensaia uma das músicas de Kid A no violão, num palco, enquanto pessoas passam: "Não estou aqui e isso não está acontecendo", ele canta. Dá pra ter uma ideia.

Foram três anos que separaram OK Computer de Kid A. Enquanto o primeiro tinha guitarras venenosas, guitarras lindas, guitarras furiosas, refrões épicos e versos poéticos, neste segundo ouvimos um violão só na quarta música, aquela que Thom ensaiou, mencionada acima. Tudo é muito mais focado na poesia. Para seu quarto álbum, o Radiohead resolveu se descontruir, simplesmente jogar no lixo sua imagem de banda de rock, as guitarras de antes e os vocais de antes, tudo no lixo, pois nada prestava.
Pausa.
Para escutar Kid A, não há como simplesmente sentar e escutar. Para apreciá-lo em toda sua poesia e descobrir todas suas texturas, talvez você precise de uma vida inteira. Não estou brincando. Eu achava que conhecia tal música, mas numa noite de relaxamento, curtindo a última música, com um lindo piano distorcido (?) no começo, juntei as sobrancelhas ao escutar um barulho diferente. Prestei mais atenção. Um tambor - um tambor militar, em estilo de marcha, ali no fundo. Voltei umas músicas, prestando atenção dobrada em cada uma. É literalmente impossível descobrir todos os barulhinhos ali em menos de dois meses.
E essa é apenas uma das razões que me faz gostar tanto do disco.
Tem a questão da arte da capa (que ilustra todo esse post - e o logo do blog). Se procurar no site da banda ou outros site de fãs, encontrará uma infinidade de desenhos, paisagens distorcidas, frias, vulcões, montanhas (como as da capa), tudo sempre remetendo ao universo onde o disco toca. Mais um triunfo de Kid A - a absurda possibilidade de criar mundos com música.
Mas vamos ao faixa-a-faixa.

1 - Everything in it's right place - O piano joga o riff sombrio logo de cara, enquanto vozes vem sussurrando o nome da música ("tudo está em seu devido lugar") em ondas, ora no ouvido direito, ora no esquerdo. Repete, repete, repete mais ainda. Ironia pesada. Escutando aquilo, você sabe que algo está muito errado. Ainda assim, a frase continua repetindo. Quando finalmente muda, choque: "ontem acordei chupando um limão". Brincadeira com o ditado popular, "se a vida te dá limões, faça limonada"? Talvez. Logo, ouvimos outra frase diferente: "tem duas cores na minha cabeça, o que foi aquilo que você tentou dizer". Só então você percebe como as vozes, o piano e os efeitos parecem crescer sem que você se desse conta. Mas tudo fica mais tranquilo de novo, só no piano, uma batida grave baixinha e frases ininteligíveis soando em algum lugar. Fade out.

2 - Kid A - a faixa título é menos estranha que a primeira. Começa com um piano infantil cercado de barulhinhos metálicos, até que surge a batida eletrônica. Mas tudo mantendo um tom leve, como se fosse de fato uma música para crianças. A voz de Thom está distorcida, irreconhecível, enquanto canta poucas frases:
"Eu escorreguei em uma mentira inocente Nós temos cabeças em varetas E você tem ventríloquos Encarando as sombras na beira da minha cama Ratos e crianças me seguem para fora da cidade Ratos e crianças me seguem para longe de suas casas Vamos crianças".
De alguma forma, tudo faz sentido.

3 - The National Anthem - Riff de baixo. Finalmente uma música de verdade? Nem tanto. Entra a bateria convencional, efeitos agudos e graves se encontrando deixam claro que algo horrível vai acontecer. O riff continua se repetindo ao infinito. Escapam sons de sopro como se estivessem presos a muito tempo. "Todos, todos envolta de mim, todos estão muito pertos". Canta claustrofobicamente. "Todos tão perto, todos tem o medo". Entram os sopros. Saxofones, e todos os outros tipos, sendo tocados ao mesmo tempo, propositalmente feios. Ninguém mas a própria banda é capaz de contar quantas pessoas tocam juntas nessa parte. A coisa cresce, cada vez mais feia, cada vez mais tensa. O riff continua. O clima é de loucura, confusão, remetendo à claustrofobia antes mencionada. Acaba, e nos cinco segundos finais de música, ecos de um hino nacional, o que remete ao nome da canção.

4 - How to disappear completely - Uma das canções mais lindas de todos os tempos. Ponto. Thom Yorke conseguiu transpor toda a tristeza do mundo em seis cordas, cantando uma das letras mais bonitas de todos os tempos. Ainda hoje me faz querer desaparecer também, e é o tema de meus eventuais momentos de tristeza e solidão. "Em alguns momentos, terei desaparecido. O momento já passou, é, já passou. Não estou aqui e isso não está acontecendo." Lágrimas.

5 - Treefingers - Calmaria nessa faixa instrumental. Sons cristalinos, continuos e tranquilos levam a canção, que não tem percussão ou qualquer tipo de agressão. Apenas ecos, texturas, rementendo a algum lugar muito frio e distante.

6 - Optimistic - Guitarras de verdade, finalmente. Não que estivessem fazendo falta, mas ainda assim, é uma guitarra venenosa, levada por uma bateria louquinha, quase engraçada. No fundo, escutamos sempre algo diferente - violões? O clima é feliz, talvez a única música do disco que tocaria tranquilamente numa rádio. "Você pode tentar o melhor que puder, o melhor que puder é o suficiente". O vocal é espetacular. Nos últimos segundos, após o final da música em si, um andamento diferente e mais agitadinho, bobinho, finaliza a grande faixa, e emenda em...

7 - In Limbo - Começa sem avisar, densa e pesada, não aos ouvidos, mas emocionalmente falando. O riff inicial parece ter sido gravado dentro de uma caverna. Thom canta em murmúrios ao começo "tenho uma mensagem que não consigo ler". No pseudo refrão, "Você está vivendo num mundo de fantasia." A canção continua "estou perdido no mar, não se preocupe comigo, perdi meu caminho." Voltamos ao mundo de fantasia. A última palavra se distorce com outros sons explosivos, como sons de bombas sendo tocados de trás para frente ou do avesso(?).

8 - Idioteque - Batida de discoteca. O sintetizador lança três notas frias. Scratches e tambores surgem quase escondidos. A letra fala sobre guerra: "quem está na trincheira, mulheres e crianças primeiro, vou rir até minha cabeça explodir, eu já vi demais você não viu o suficiente". O refrão é pesado: "aqui me é permitido tudo o tempo todo." Canta com raiva pela primeira vez em meia hora, continua falando sobre fogueiras e eras do gelo, quando desmente sua constatação da quarta música: "isso está realmente acontecendo". Para muitos, a música da década.

9 - Morning Bell - Bateria marcante. Piano sombrio e quieto, riff de baixo inteligente. A letra mais difícil do álbum. "Você pode ficar com os móveis, um galo na cabeça, descendo pela chaminé, me solte, me solte, por favor." Continua falando sobre separações de forma misteriosa: "onde você estacionou o carro, roupas estão por todos os lugares com os móveis, e posso muito bem, preguiçoso treinamento de incêndio, girando, girando, girando, girando...". Depois do curto solo de guitarra, a frase mais sombria do disco: "corte as crianças no meio".

10 - A música mais linda de todos os tempos. Não foi uma pergunta. E tem a letra mais direta da carreira de Thom. Análise profunda, por favor:

Vinho tinto e pílulas para dormir Me ajudam a voltar pros seus braços Sexo barato e filmes tristes Me ajudam a voltar pra onde eu pertenço Eu acho que você é louca, talvez Eu acho que você é louca, talvez
Aqui sai o piano distorcido e entram as arpas, arranjos de cordas angelicais.
Pare de mandar cartas Cartas sempre acabam queimadas

Corais de anjos ao fundo.
Não é como nos filmes Elas nos alimentam com mentiras inocentes Eu acho que você é louca, talvez Eu acho que você é louca, talvez
Volta o piano, e as cordas crescem.
Eu verei você na próxima vida...

Cordas vão desaparecendo, se desconstruindo até sumir.
Afinal, sobre o que é Kid A? É apenas uma banda encontrando redenção, um complicado conto sobre suicídio, um monstro lírico, o melhor disco já feito, o pior disco já feito? A análise é dura. Até mesmo fãs largaram de vez na primeira escutada.
Mas para mim, é uma obra perfeita. Densa ao extremo, mudou toda minha percepção do que tinha por música, me fez querer escutar outras coisas que nunca havia escutado antes. Mais que isso, prova o discurso do diretor David Lynch, de que a criatividade é de fato menosprezada e diminuída quando se transforma a música em um produto, esquecendo que ela é arte. Pois bem, Kid A é arte. É totalmente, puramente arte. E agradeço ao Radiohead por ter ensinado a lição ao mundo não só da música, mas de todas as artes.
Tenha paciência com o álbum. Talvez largue de mão, mas talvez, descubra as dez músicas que ouvirá por toda sua vida.
Nota: 10.000/10

A primeira música:


Aquela que uma das mais lindas de todos os tempos:


A última. Esse clipe foi feito oficialmente pela banda com "blips" promocionais, feitos para divulgar o disco, mas que nunca foram usados de verdade. Acabaram perdidos na internet, virando objeto de coleção para fãs mais encarnados (leia-se, eu). No youtube tem alguns. Anyway:

Eu e meu eu lírico

Hoje decidi ser poeta.

Procurei meus livros preferidos, alguns que me trouxessem pensamentos poéticos,
mesmo que nunca os tivesse lido.
Busquei meus discos preferidos, mesmo uns que nunca escutei,
mas trouxe o meu preferido, o mais poético de todos.

Arrumei o colchão velho no chão, liguei o som ao meu lado,
ajustei os fones no ouvido, coloquei meu disco preferido e apertei play.
Espalhei os livros do outro lado, para ver suas capas.
Cada uma me trazia uma série de pensamentos, tinha aquele da mulher que tenta se matar, aquele da casa assombrada, aquele antigo de poesias, capa bonita, que nunca li.

As primeiras notas já me levam para longe.

**

Jane, ao meu lado, tenta escrever uma canção de amor,
uma que sua voz possa cantar sem força,
que fique bonita não importando o lugar ou a situação.
Uma canção que também seja de dor,
a dor que todas sentem e reconhecem.

Mas de sua guitarra saem notas graves e violentas.

As cordas vibram, fazem sons, batem na parede e voltam.
Canta palavras bonitas, mas não o suficiente.
Chora por dentro, enchendo seu quarto de lágrimas imaginárias.
Então, dorme e sonha, e é o único momento do dia que a faz sorrir de verdade.

A observo enquanto tira sua soneca.
Seus lábios formam um sorrisinho pequeno, como o da Monalisa.
Do que ela ri, não sei. Mas espero que consiga trazer tal felicidade para sua guitarra.

Ela acorda, tenta de novo, sem sucesso.
Volta a dormir.

Assim são por vários meses. Até que ela decide sair de casa, ir numa festa com as amigas.

Enquanto está fora, a espero, para ver se fará alguma diferença,
o que acho impossível. Jane é muito quieta para festas.

Mas quando a porta se abre, surpresa, está sorrindo.

Corre para sua guitarra, procurando uma afinação, até que encontra um acorde perfeito.
Canta algumas palavras sem esforço, de olhos fechados.
Obsevei que, ao seu lado, no chão, deixara cair um papelzinho.
Juntei-o.

"Você é muito linda sabia disso?"

Sorri. Uma cantada um tanto cafona, de um garoto que conheceu na balada. Acho que a veia romântica ainda existe no mundo, aifnal de contas.

Ela canta.
De pé ao seu lado, pergunto-me se irá decepcionar-se logo, se fora apenas uma cantada de uma noite e o garoto a esquecerá. Posso estar enganado, o bilhete pode ser sincero. Mas o fato é que ela se apaixonou e espero que ele também. Jane não parece preocupada.

Apaixonada, canta calmamente uma música que chega até as paredes e as ultrapassa,
alheia a qualquer outro problema,
ela traz seus sonhos para a realidade.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
não precisas ser amante.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um conto de fadas


A floresta ficava mais densa a cada passo. Uma garotinha caminhava lentamente por ali, usando a touca vermelha de sua pequena capa para evitar qualquer visão que não fosse apenas de sua frente. Chegou um ponto os passarinhos mal cantavam, ficava muito silencioso, ouvia apenas seus passos quebrando galinhos e folhas secas.
O lobo a cercava sem que ela percebesse. Os poucos barulhos que fazia, ela pensava serem de seus próprios pés ou fruto da imaginação. Era a primeira vez que ele chegava tão perto.
Avistou finalmente a casinha pequena não muito longe - a trilha que seguia acabava bem na porta de madeira polida. Relaxou um pouco, apressando o passo, sem ligar para o barulho que parecia ficar mais alto em algum ponto atrás de suas pegadas.
Correu quando faltavam cinco passos, o terror tomou conta de seu corpo. Empurrou a porta que já estava aberta e fechou rápido, usando todas as trancas. Respirou fundo, percebendo ter suado um pouquinho, mais pelo nervosinho que pela caminhada. Geralmente não se assustava, mas às vezes, a imaginação a leva a lugares estranhos.
Abaixou a touca vermelha, jogando os cabelos cor de mel para trás. Revelou-se a garotinha, que tinha 17 anos e nem sabia. Soltou a cesta que carregava em cima da mesa e olhou-se no espelho na parede ali perto. Tinha um sorriso perfeito, lindos e cristalinos olhos azuis e o cabelo, levemente encaracolado, era tão brilhante que não seria estranho confundi-lo com o sol.
Porém a garota não sabia de suas qualidades, pois nunca vira qualquer outro sorriso para fazer comparação, ou outro cabelo. Ficava sempre sozinha ali, saindo para pegar algumas frutas vez ou outra, mas vivia sozinha. Para passar o tempo, escrevia num caderno que sempre teve, mas sequer lembra onde o encontrou.
Andou pela casa um pouco, sorridente. Sentia-se tão segura ali dentro, como se nada pudesse ferí-la. Acendeu uma vela e a levou num pratinho para perto da cama, onde gostava de escrever. Pulou de bruços no colchão macio, com o caderno e caneta à frente, a vela um pouquinho ao lado, também em cima da cama. Deixou a oscilação da chama levar seus pensamentos para longe, enquanto rabiscava palavras de amor, um sentimento que conhecia pouco.
Quando escrevia sobre amor, era como se desenterrasse algo antigo. É um sentimento que pulsa em seu peito, ali em seu coração, mas ela nem sabia que tinha um coração.
Também não sabia que havia muita vida fora da floresta, nunca saía de lá. Não conhecia a solidão, pois nunca teve companhia. Era uma bomba de emoções, às vezes, sentia uma atração muito forte. Tentava descrever em seu caderno, usando palavras fracas como "irrepreensível", ou expressões estranhas como "mais forte que uma supernova", sem saber ao certo de onde tirou tal palavra.
Ali, sozinha, cantarolava canções lindas que nunca seriam ouvidas.
O que não sabia era da maldição. Um lobo a cercava fora da casa. Não podia entrar, apenas observava. Seu trabalho era cuidar da jovem para que nunca saísse ao mundo de fora, cuidar para que nunca fosse tão longe de casa, pois ela não podia morrer, mas era proibida de sair dali.
O lobo fora instruído por uma força maior, uma entidade que não conhecia, mas obedecia, porque simplesmente fazia sentido.
Mas já faziam anos.
Ele questionava sua força de vontade. Aquela garota, talvez a mais linda que já vira, trancada ali numa casa num lugar que jamais seria encontrado, e caso corresse tal risco, seria de sua parte tomar providências.
Muitos dias, cansado de rondar o lugar, deitava a cabeça entre as patas e apenas a observava pela janela, enquanto escrevia apaixonadamente naquele caderno. Tinha vontade de sorrir, ela era impressionante, como se alguma magia a fizesse parecer tão perfeita, mas de fato, era tão linda quanto parecia.
O lobo chorava. Tamanha beleza jamais seria conhecida por alguém. Deveria sentir-se especial? De certa forma, sim, mas porque deixar uma garota dessas ali, presa, permanentemente enfeitiçada para não questionar ou tentar fugir? Tão, tão linda, e ali, perdida, esquecida. Não esquecida, pois sequer se sabe de sua existência.
Então levantou a cabeça, pôs-se em posição de caça, mostrando determinação. Caminhou sem pressa até a porta da casinha, com os olhos confusos. Sabia do risco. Corria um tremendo risco por causa dessa garota que não tinha nome.
Só então passou por sua cabeça que podia ser aquele sentimento sobre o qual ela tanto escrevia, o amor. Leu sobre ele num dos dias que ela saiu para buscar comida, sorrateiramente entrou na casa e encontrou o caderno perto da cama. Teve medo de tal sentimento, mas agora parecia bobiça.
Bateu na porta, sabendo que sua vida e a da garota mudariam completamente.

sábado, 10 de abril de 2010

Poeta meia boca

Mais um post sobre sentimentos?
Esse menos deprimente que o anterior (risos). Ironicamente, o jogo de play, Shadow Of The Colossus, mencionado lá, está quase baixado aqui... minhas forças estavam onde eu não havia procurado ainda - no meu coração. Era meio óbvio não?
Minha batalha não está em... 99,7%, como o jogo, mas ainda assim, está firme.

Há três dias comprei um caderno pequeno, daqueles de 96 páginas, para fazer o diário de uma paixão. Meloso, mas muito divertido e emocionante. Até achei que em algum ponto, ia cansar de escrever e desistir da ideia, mas toda a inspiração que parecia não ter para escrever aqui, usei escrevendo furiosamente lá.
Não enchi o caderno como desejava, mas foi (quase) o suficiente.

Até queria dizer algo aqui, sobre o que sinto de verdade, mas acho que usei todas as palavras possíveis lá.

Só me resta repetir de forma passional - eu te amo, eu te amo, eu te amo.


OBS: não vai ficar brava porque usei uma foto sua ali né? (risos)

sábado, 3 de abril de 2010

Anjos sempre voltam para casa

Um estrondo forte faz a cama tremer.
Já acordado há vários minutos, penso em como é irônico um temporal assim na véspera de natal. Pego meu celular de baixo do travesseiro e ligo a luz do visor.
- Ei. – pergunto para ela, que está ao meu lado. – Tudo bem?
- Sim. – sorri, aparentemente também estava acordada. – Não consigo dormir, mas é porque estou sem sono.
- Temporal esquisito.
- Faz mais de meia hora que está assim. – suspira. Por um momento, apenas penso em como seus olhos ficam lindos com a luz fraca do visor, e em como seu rosto é bonito.
Acendo o abajur ao lado da cama. Das venezianas da janela, passam barulhos de vento, aqueles assovios, junto com o ruído contínuo da chuva nos telhados e na calçada. Ainda assim, parece pacífico.
- É gostoso isso. – ela diz baixinho.
- O quê? – deito-me perto dela.
- Essa sensação de estar protegido. De que não importa o que aconteça, estaremos bem. – faz uma pausa e olha para o teto. – Juntos.
Eu não sabia se ela falava da tempestade, ou de nós. Tivemos nossas próprias tempestades. Sem perceber, sussurrávamos. Fechou os olhos por um momento, em seguida levantou-se.
- Vou ao banheiro. Quer vir junto? – brincou, sumindo na porta.
Enquanto esperava, admiti para mim mesmo que era realmente acolhedor aqui, sentir-se tão bem e em paz. Para mim, quem trazia esse efeito era ela.
Antes que continuasse meu pensamento, todo o barulho cessou. Nem um pingo de chuva, sequer um assovio.
Então ela gritou.
Enquanto corria, por alguma razão, passou pela minha cabeça que era extremamente importante estar com ela agora. Procurei-a pela casa e sem saber por que, senti uma dor emocional, como se fosse perdê-la.
Na porta aberta da sala, a que dava saída para a rua, estava ela, sorrindo.
- O que foi? – perguntei.
- Você tem que ver isso. – estava fascinada, com as mãos na boca.
Antes que visse por completo a rua, a imagem foi se formando pelo vislumbre que vi da porta. Ainda assim, tendo aquilo na frente de meus olhos, não acreditava.
Neve.
Estava nevando de verdade e estava claro. Como um natal dos filmes, branco por tudo, gritando magia. Ela me abraçou e me beijou, enquanto olhávamos aquilo e sem saber por que, sentíamos muito sono de repente. Caminhamos devagar até o sofá, sentamos e fechamos os olhos.
No hospital, ambos com oito décadas de história, onde realmente estávamos de olhos fechados, unidos pelo mesmo sonho, a vida se esvaiu de nossos corpos e juntos, embarcamos em uma nova aventura.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Filmes para checar

Distrito 9
Melhor filme de 2009? Muitos dizem que sim. A premissa já é inusitada, afinal, quando que uma nave alienígena pousaria em Joanesburgo, e não nos EUA? Mas logicamente, os caras têm que se meter, ao entrar na nave aparentemente inofensiva, descobrindo uma colônia de ETs a beira da morte. Bonzinhos, descem os bichos e montam uma espécie de bairro especialmente para eles, alimentando-os. Eventualmente a coisa sai de controle, os aliens mostram-se sociáveis, mas nem tanto, e - parece brincadeira -, o lugar vira uma favela.
Um dos seres humanos mais estúpidos e irritantes do mundo, o protagonista (!), que trabalha lado a lado com o governo, descobre acidentalmente o segredo para a tecnologia alien, ao mesmo tempo que parece estar se transformando em um. Tio Sam coloca o mundo contra ele, o que o faz procurar abrigo justamente na "favela", enquanto tenta reverter sua transformação, totalmente sozinho.
Poderia ser uma babaquice, mas com o roteiro certo, o diretor (novato) certo e uma mãozinha de Peter Jackson como produtor, sai um filme que não faria feio com a estampa "Vencedor do Oscar de Melhor Filme" na capa. Atuações fortes, roteiro brilhante e efeitos incríveis, ainda mais tendo em vista o orçamento pequeno (75 milhões) para os padrões atuais. Deixa Avatar do chinelo.


Sempre ao seu lado
Eu não chorei com Titanic. Emocionado, fiquei, mas não chorei. Nem com Diário de uma Paixão, nem com qualquer outro drama que tenha visto. Este sempre ao seu lado, que me parecia uma tentativa de lucrar em cima do recente Marley e Eu, não era o tipo de filme que deveria me fazer chorar. Uma hora e meia depois, não eu, mas toda minha família teve de ir ao banheiro lavar o rosto - pois a alma já estava lavada. Não sei se preciso dizer mais. Para complementar, basta saber que um professor de faculdade encontra um cachorro Akita numa estação ao voltar do serviço, acabando por adotá-lo, descobrindo uma nova e forte amizade. Clichê? Eu também achava. Pois veja com uma toalha do lado, os lenços não dão conta.


Código de Conduta

Homem tem sua mulher e filha assassinadas por assaltante, mas por acordo judicial com seu advogado, ele pega uma pena leve e será solto em pouco tempo. O tal advogado sobe na vida, num intervalo de dez anos, que é quando o viúvo (Gerard Butler) volta para sua vingança. O problema é que ele se deixa capturar e de alguma forma, continua se vingando, complicando o pobre do advogado e mais um monte de gente. Direto de sua sala na cadeia. Ao mesmo tempo que é um ótimo suspense, é uma crítica a negociações com criminosos e o excesso de luxo ofericido na cadeia (numa chantagem, ele consegue até um aparelho de som). Poderia ter uma conclusão melhor, mas ainda assim, um dos melhores thrillers da prateleira. Destaque para o sempre competente Gerard Butler (P.S. Eu te amo).