sábado, 3 de abril de 2010

Anjos sempre voltam para casa

Um estrondo forte faz a cama tremer.
Já acordado há vários minutos, penso em como é irônico um temporal assim na véspera de natal. Pego meu celular de baixo do travesseiro e ligo a luz do visor.
- Ei. – pergunto para ela, que está ao meu lado. – Tudo bem?
- Sim. – sorri, aparentemente também estava acordada. – Não consigo dormir, mas é porque estou sem sono.
- Temporal esquisito.
- Faz mais de meia hora que está assim. – suspira. Por um momento, apenas penso em como seus olhos ficam lindos com a luz fraca do visor, e em como seu rosto é bonito.
Acendo o abajur ao lado da cama. Das venezianas da janela, passam barulhos de vento, aqueles assovios, junto com o ruído contínuo da chuva nos telhados e na calçada. Ainda assim, parece pacífico.
- É gostoso isso. – ela diz baixinho.
- O quê? – deito-me perto dela.
- Essa sensação de estar protegido. De que não importa o que aconteça, estaremos bem. – faz uma pausa e olha para o teto. – Juntos.
Eu não sabia se ela falava da tempestade, ou de nós. Tivemos nossas próprias tempestades. Sem perceber, sussurrávamos. Fechou os olhos por um momento, em seguida levantou-se.
- Vou ao banheiro. Quer vir junto? – brincou, sumindo na porta.
Enquanto esperava, admiti para mim mesmo que era realmente acolhedor aqui, sentir-se tão bem e em paz. Para mim, quem trazia esse efeito era ela.
Antes que continuasse meu pensamento, todo o barulho cessou. Nem um pingo de chuva, sequer um assovio.
Então ela gritou.
Enquanto corria, por alguma razão, passou pela minha cabeça que era extremamente importante estar com ela agora. Procurei-a pela casa e sem saber por que, senti uma dor emocional, como se fosse perdê-la.
Na porta aberta da sala, a que dava saída para a rua, estava ela, sorrindo.
- O que foi? – perguntei.
- Você tem que ver isso. – estava fascinada, com as mãos na boca.
Antes que visse por completo a rua, a imagem foi se formando pelo vislumbre que vi da porta. Ainda assim, tendo aquilo na frente de meus olhos, não acreditava.
Neve.
Estava nevando de verdade e estava claro. Como um natal dos filmes, branco por tudo, gritando magia. Ela me abraçou e me beijou, enquanto olhávamos aquilo e sem saber por que, sentíamos muito sono de repente. Caminhamos devagar até o sofá, sentamos e fechamos os olhos.
No hospital, ambos com oito décadas de história, onde realmente estávamos de olhos fechados, unidos pelo mesmo sonho, a vida se esvaiu de nossos corpos e juntos, embarcamos em uma nova aventura.

3 comentários:

  1. Já li esse antes de ser postado \o/
    OPAKSAOSPK'
    Amo seus textos, voce ja sabe disso hm*
    =* ♥

    ResponderExcluir
  2. Teve um pouco de suspense e eu estava esperando por uma tragédia maior, como sempre :/

    Lindo texto *-*

    ResponderExcluir
  3. Um dia esse seus contos ainda irão virar filmes.

    ResponderExcluir