quarta-feira, 31 de março de 2010

Para quê confundir o que é fácil?


I

A chuva cai na grama, nas criaturinas que ali habitam. Gotas leves e aleatórias tocam as folhas verdes, fazendo-as dançar no vasto campo, que vai até a linha do horizonte.
Imagina isso, enquanto escreve, pensando em como quer um abraço. Não gosta de precisar pedir, pois ama a surpresa, a sensação do corpo esquentar de vergonha e felicidade.

A chuva cai, molhando seu corpo e sua alma. É gostoso. O espaço em branco, ou em preto, em seu peito, é o único lugar que a água não chega. Desvia. Nem ele próprio sabe como entrar ali.
Escreve mais um pouco, incerto de suas palavras. Imagina-se caindo e gritando, ainda no labirinto que sempre começa na chuva e termina no escuro.

A chuva cai, inundando suas ideias. Seus amores, seus trejeitos de personalidade, flutuando num rio calmo. Bóia junto, entendendo quase tudo. Quase tudo. Apenas uma vez, pensa novamente em seu coração.

Apenas uma.

A chuva cai e não faz diferença.

II

Vê as coisas de trás para frente. Os acontecimentos de sua vida voltando rapidamente, voltando pela faculdade, voltando pelo ano de folga, voltando pelo ensino médio, voltando para o ensino fundamental, parando no maternal.

Vê como era bobo. Rindo de jogar areia para cima. Uma menina está junto com ele, rindo tanto quanto. Lembra dela. Os anos avançam rápido agora, parando por segundos em momentos específicos, antes de continuar voando.

Corre, no ensino fundamental, sétima série, com seu primeiro beijo. Percebe o rosto escondido da mesma garota de antes, um pouco longe dele, no pátio da escola, obervando a cena. Ciúmes. Corre, ela é sua melhor amiga, ele conta tudo sobre a garota que beijou. Ciúmes. Corre, faculdade, os dois são adultos, amigos, e ele não sabe que ela nunca beijou.

Nunca beijou.

Está em seu quarto, onde havia começado a sonhar. Não há chuva, nem labirintos, nem confusões, nem um espaço em seu peito. Em seu peito, está seu coração.

- E agora - ele diz -, quem me guiará é você.

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