segunda-feira, 22 de março de 2010

Fantasmas do Passado - Parte 3


Daniela solta o telefone no gancho, deixando-o escorregar entre os dedos até cair. Morde o lábio, mania que desenvolveu ao passar dos anos.
Sempre antes de desmaiar, sente uma tontura estranha, como se sua atenção fosse desviada, em seguida, é como cair na cama com muito sono. Leva a mão à cabeça, massageando as têmporas e soltando uma risadinha nervosa.
- Mãe? - chama.
- O quê? - ela responde da cozinha.
- Preciso falar com você. - suspira.
- Sobre? - pergunta já sabendo a resposta. Aparece na porta em seguida, caminhando até a sala onde terão a tal conversa. É uma mulher na casa dos cinquenta, mas que está longe de se aquietar. Sua postura ereta não deixa dúvidas de que poderia discutir com um valentão com o dobro de sua altura e ainda sair vitoriosa.
Daniela entrou na sala segundos depois, massageando a cabeça.
- Sinceramente, achei que isso ia acontecer pelo menos uma década mais cedo. - disse para a filha enquanto sentavam no mesmo sofá, uma ao lado da outra.
- Isso é... confuso. - murmurou devagar.
- No que está pensando? - perguntou-a, após uma breve pausa.
- O garoto que eu jurava amar me ligou depois de dez anos. - fechou os olhos, rindo de leve. - Estou pensando em muitas coisas. Aquele negócio de esquecê-lo para não sofrer me parece burrice agora, apesar de tudo. Mãe, eu eu mal lembrava dele. Venho entrando e saindo de relacionamentos que duram cerca de cinco segundos cada... as alegrias da minha vida incluem ser professora, ter amigas e amigos maravilhosos, mas uma hora ou outra, estou no quarto pensando nas coisas que não aconteceram. Há alguns anos, doía, agora são apenas lembranças fracas o suficiente para me deixar na dúvida se um dia realmente existiram. Sou adulta, não devia estar pensando nisso, não devia ter que ficar na dúvida, certo?
- Errado.
- Errado?
- Sim. A vida não tem uma fórmula para seguir, que no final tudo dá certo. Quando se é adolescente, é muito fácil sonhar com as coisas erradas, não levar a vida tão a sério, por isso pedi para que fosse mais cautelosa.
- Acho que levei isso ao extremo. - quase sussurrou.
Sua mãe pensou por um momento.
- Talvez tenha sido melhor. - disse por fim.
- Melhor? Agora Matt entrou na minha vida fazendo confusão de novo, e nem sei se ele é bonito ainda. - brincou no meio do desespero. - Não consigo deixar de me arrepender de ter feito aquela força toda pra esquecê-lo, se está tudo de volta agora, exatamente como antes.
Daniela abaixou a cabeça mais uma vez, e sua mãe, tranquila, queria sorrir, mas ao mesmo tempo, não queria dar tanta confiança à ela.
- Vamos direto ao assunto. - disse inclinando-se para frente. - Você o quer de volta?
- Eu não sei. Eu acho. Agora ainda estou agitada, sabe? - diz indicando sua própria cabeça. - Mas não consigo deixar de dar graças que estou solteira. - brincou.
- Na verdade, por uma vez na minha vida,talvez eu possa ver algo como nos filmes. - falou com os olhos distantes. - Se isso durou tanto tempo, pode ser verdadeiro mesmo. - viu que estava tão empolgada com isso quanto a filha deveria estar.
- É. - Daniela não conteve o sorriso.
- Filha, você é adulta. Nesse exato momento, não tem que me perguntar coisa nenhuma. Meu único conselho é não ir com tanta sede ao pote, as coisas podem ter mudado para ele.
Daniela apoiou o queixo nas mãos, pensativa.
- Espero que não.

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