sexta-feira, 26 de março de 2010

Fantasmas do Passado - Parte Final


Matt optou por pular todas as partes intermediárias.
Imaginou tudo como uma cena de filme em sua cabeça, uma cena bonita, com uma música que começava baixinha e ia envolvendo aos poucos. Poderia ser Starlight, da Muse. Estava em silêncio, no carro, indo ao mercado comprar besteiras para comer na caminho. Resolve ligar o som, e a música começa, baixinha, dentro do carro. Posiciona o veículo em algum lugar perto da porta do mercado e entra, enquanto a música continua no fundo. Corta. Ele está em casa fazendo as malas, a música aumenta. Corta. Ele está comprando a passagem de ônibus enquanto o vocalista declara "eu nunca vou deixar você ir, se prometer que nunca vai sumir".
Dentro do ônibus, balançando com os buracos na estrada ou com curvas muito bruscas, apenas olha para fora, para o mundo. O vocalista grita com toda sua paixão as frases "Nossas esperanças e expectativas, buracos negros e revelações". Divaga sobre esperanças e buracos negros, tentando encontrar uma ligação entre os dois. Talvez haja uma, mas não consegue explicar.
A vida é feita de momentos, pensa. A maioria dos dias do ano são esquecíveis. A maioria.
Mas naquele momento, em pé, era difícil pensar em pequenos momentos. Era difícil pensar. O diretor do filme teria feito uma saída inteligente - mostrava tudo aquilo, Matt em pé na frente de uma porta, para depois revelar que estava sem as malas. Na verdade, já tinha descarregado tudo no hotel mais cedo, até já havia ligado para Daniela avisando que estava na cidade. A única coisa em sua mão era o caderno com suas confissões adolescentes.
Agora, como o espectador, estava surpreso de estar ali naquela tarde relativamente normal.
Levanta a mão lentamente e bate três vezes na porta.
A casa era bonita, branca, mas de madeira, o que era estranho na vizinhança cheia de casas que pareciam maiores, e eram de concreto. De qualquer forma, era bonita. Bem o tipo de residência que se veria num livro, daquelas tranquilas, onde nada de ruim acontece. Ironia.
Escutou passos que pararam bem atrás da porta. A maçaneta gira, a porta abre. Por meio segundo, acredita que não deveria estar ali. Mas só por meio segundo.
- Bom dia. - diz sorrindo simpaticamente.
- Matt?
Seu sorriso é absurdamente parecido com o de anos atrás.
- É você mesmo? - ela insiste.
Antes que pudesse responder, ela se aproximou e o abraçou comportadamente, mas com força.
- Seria engraçado se eu não fosse o Matt, e você estivesse abraçando um completo estranho.
- Seria. - ela riu, distanciando-se. - Às vezes é bom arriscar.
- Às vezes. - concordou, enquanto ela retomava uma distância segura. - Mas como vão as coisas por aqui?
- Ótimas. - apenas Daniela percebeu o duplo sentido. - E hoje estou com a tarde livre, ainda bem. Essa vida de professora é corrida.
- Ao contrário da vida de escritor então. Ou pelo menos, da minha vida de escritor.
Sorriram juntos.
- Tudo bem, vai me contar tudo sobre isso quando sairmos. - ela disse.
- Agora?
- Bom, a mamãe está aqui também, quer dar "oi" pra ela antes?
Matt fez uma careta.
- Querer... - repetiu, brincalhão.
Daniela riu.
- Vem sim. - riu, convidando-o a entrar.
Olhou para o sorriso dela. Mal tinha conseguido focar em seu rosto ainda. Olhos castanhos, cabelo caindo gentilmente pelos ombros, pele morena e lábios sensuais. O filme podia acabar ali, com ele entrando na casa, a porta fechando atrás da câmera, deixando o público sem saber o que aconteceu.
Os créditos sobem, a canção cresce, e todos se perguntam se eles se beijaram assim que a porta fechou, ou se primeiro fizeram todas as formalidades, para depois sair como num segundo primeiro encontro... de qualquer forma, o romantismo na veia do espectador traria o final perfeito, à seu gosto.

Alguns ficam até o final da sessão, para escutar a música que segue as letrinhas até a última nota. Só então o filme acaba, mas o romance parece continuar lá dentro, como se a história continuasse em algum lugar.

4 comentários:

  1. Estou imaginando um final bem feliz pra eles *-*

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  2. vou te matar, quero saber o que tu queria que houvesse, na tua cabeça D:

    AI QUE RAIVA ofdfgsdioh
    *0*

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  3. Você é mau...
    Mas gostei... tô aqui imaginando ele mostrando o caderno pra ela...

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  4. Só você mesmo...
    Imaginei o "meu" final, e nele eles foram felizes, mas não para sempre .-.

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