segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um conto de fadas


A floresta ficava mais densa a cada passo. Uma garotinha caminhava lentamente por ali, usando a touca vermelha de sua pequena capa para evitar qualquer visão que não fosse apenas de sua frente. Chegou um ponto os passarinhos mal cantavam, ficava muito silencioso, ouvia apenas seus passos quebrando galinhos e folhas secas.
O lobo a cercava sem que ela percebesse. Os poucos barulhos que fazia, ela pensava serem de seus próprios pés ou fruto da imaginação. Era a primeira vez que ele chegava tão perto.
Avistou finalmente a casinha pequena não muito longe - a trilha que seguia acabava bem na porta de madeira polida. Relaxou um pouco, apressando o passo, sem ligar para o barulho que parecia ficar mais alto em algum ponto atrás de suas pegadas.
Correu quando faltavam cinco passos, o terror tomou conta de seu corpo. Empurrou a porta que já estava aberta e fechou rápido, usando todas as trancas. Respirou fundo, percebendo ter suado um pouquinho, mais pelo nervosinho que pela caminhada. Geralmente não se assustava, mas às vezes, a imaginação a leva a lugares estranhos.
Abaixou a touca vermelha, jogando os cabelos cor de mel para trás. Revelou-se a garotinha, que tinha 17 anos e nem sabia. Soltou a cesta que carregava em cima da mesa e olhou-se no espelho na parede ali perto. Tinha um sorriso perfeito, lindos e cristalinos olhos azuis e o cabelo, levemente encaracolado, era tão brilhante que não seria estranho confundi-lo com o sol.
Porém a garota não sabia de suas qualidades, pois nunca vira qualquer outro sorriso para fazer comparação, ou outro cabelo. Ficava sempre sozinha ali, saindo para pegar algumas frutas vez ou outra, mas vivia sozinha. Para passar o tempo, escrevia num caderno que sempre teve, mas sequer lembra onde o encontrou.
Andou pela casa um pouco, sorridente. Sentia-se tão segura ali dentro, como se nada pudesse ferí-la. Acendeu uma vela e a levou num pratinho para perto da cama, onde gostava de escrever. Pulou de bruços no colchão macio, com o caderno e caneta à frente, a vela um pouquinho ao lado, também em cima da cama. Deixou a oscilação da chama levar seus pensamentos para longe, enquanto rabiscava palavras de amor, um sentimento que conhecia pouco.
Quando escrevia sobre amor, era como se desenterrasse algo antigo. É um sentimento que pulsa em seu peito, ali em seu coração, mas ela nem sabia que tinha um coração.
Também não sabia que havia muita vida fora da floresta, nunca saía de lá. Não conhecia a solidão, pois nunca teve companhia. Era uma bomba de emoções, às vezes, sentia uma atração muito forte. Tentava descrever em seu caderno, usando palavras fracas como "irrepreensível", ou expressões estranhas como "mais forte que uma supernova", sem saber ao certo de onde tirou tal palavra.
Ali, sozinha, cantarolava canções lindas que nunca seriam ouvidas.
O que não sabia era da maldição. Um lobo a cercava fora da casa. Não podia entrar, apenas observava. Seu trabalho era cuidar da jovem para que nunca saísse ao mundo de fora, cuidar para que nunca fosse tão longe de casa, pois ela não podia morrer, mas era proibida de sair dali.
O lobo fora instruído por uma força maior, uma entidade que não conhecia, mas obedecia, porque simplesmente fazia sentido.
Mas já faziam anos.
Ele questionava sua força de vontade. Aquela garota, talvez a mais linda que já vira, trancada ali numa casa num lugar que jamais seria encontrado, e caso corresse tal risco, seria de sua parte tomar providências.
Muitos dias, cansado de rondar o lugar, deitava a cabeça entre as patas e apenas a observava pela janela, enquanto escrevia apaixonadamente naquele caderno. Tinha vontade de sorrir, ela era impressionante, como se alguma magia a fizesse parecer tão perfeita, mas de fato, era tão linda quanto parecia.
O lobo chorava. Tamanha beleza jamais seria conhecida por alguém. Deveria sentir-se especial? De certa forma, sim, mas porque deixar uma garota dessas ali, presa, permanentemente enfeitiçada para não questionar ou tentar fugir? Tão, tão linda, e ali, perdida, esquecida. Não esquecida, pois sequer se sabe de sua existência.
Então levantou a cabeça, pôs-se em posição de caça, mostrando determinação. Caminhou sem pressa até a porta da casinha, com os olhos confusos. Sabia do risco. Corria um tremendo risco por causa dessa garota que não tinha nome.
Só então passou por sua cabeça que podia ser aquele sentimento sobre o qual ela tanto escrevia, o amor. Leu sobre ele num dos dias que ela saiu para buscar comida, sorrateiramente entrou na casa e encontrou o caderno perto da cama. Teve medo de tal sentimento, mas agora parecia bobiça.
Bateu na porta, sabendo que sua vida e a da garota mudariam completamente.

Um comentário:

  1. O Lobo sempre quis comer a Chapeuzinho, mas agora ele está apaixonado por ela hm*
    oaspkasopk' isso é engraçado...
    Beijos ♥

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