domingo, 18 de abril de 2010

Eu e meu eu lírico

Hoje decidi ser poeta.

Procurei meus livros preferidos, alguns que me trouxessem pensamentos poéticos,
mesmo que nunca os tivesse lido.
Busquei meus discos preferidos, mesmo uns que nunca escutei,
mas trouxe o meu preferido, o mais poético de todos.

Arrumei o colchão velho no chão, liguei o som ao meu lado,
ajustei os fones no ouvido, coloquei meu disco preferido e apertei play.
Espalhei os livros do outro lado, para ver suas capas.
Cada uma me trazia uma série de pensamentos, tinha aquele da mulher que tenta se matar, aquele da casa assombrada, aquele antigo de poesias, capa bonita, que nunca li.

As primeiras notas já me levam para longe.

**

Jane, ao meu lado, tenta escrever uma canção de amor,
uma que sua voz possa cantar sem força,
que fique bonita não importando o lugar ou a situação.
Uma canção que também seja de dor,
a dor que todas sentem e reconhecem.

Mas de sua guitarra saem notas graves e violentas.

As cordas vibram, fazem sons, batem na parede e voltam.
Canta palavras bonitas, mas não o suficiente.
Chora por dentro, enchendo seu quarto de lágrimas imaginárias.
Então, dorme e sonha, e é o único momento do dia que a faz sorrir de verdade.

A observo enquanto tira sua soneca.
Seus lábios formam um sorrisinho pequeno, como o da Monalisa.
Do que ela ri, não sei. Mas espero que consiga trazer tal felicidade para sua guitarra.

Ela acorda, tenta de novo, sem sucesso.
Volta a dormir.

Assim são por vários meses. Até que ela decide sair de casa, ir numa festa com as amigas.

Enquanto está fora, a espero, para ver se fará alguma diferença,
o que acho impossível. Jane é muito quieta para festas.

Mas quando a porta se abre, surpresa, está sorrindo.

Corre para sua guitarra, procurando uma afinação, até que encontra um acorde perfeito.
Canta algumas palavras sem esforço, de olhos fechados.
Obsevei que, ao seu lado, no chão, deixara cair um papelzinho.
Juntei-o.

"Você é muito linda sabia disso?"

Sorri. Uma cantada um tanto cafona, de um garoto que conheceu na balada. Acho que a veia romântica ainda existe no mundo, aifnal de contas.

Ela canta.
De pé ao seu lado, pergunto-me se irá decepcionar-se logo, se fora apenas uma cantada de uma noite e o garoto a esquecerá. Posso estar enganado, o bilhete pode ser sincero. Mas o fato é que ela se apaixonou e espero que ele também. Jane não parece preocupada.

Apaixonada, canta calmamente uma música que chega até as paredes e as ultrapassa,
alheia a qualquer outro problema,
ela traz seus sonhos para a realidade.

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