James está encostado na parede da sala, batendo o pé no chão, ansioso. São nesses momentos em que não sabe o que fazer que fica realmente com medo de si mesmo, porque são nesses momentos que geralmente fala besteiras.
Passou quase toda a noite anterior acordado, divagando sobre Rachel, a garota que, por alguma razão desconhecida, quis encontrá-lo depois da aula, que coincidentemente, também é a garota que ele provavelmente ama. Provavelmente.
Olha para cima, com um leve desespero em seu sorriso nervoso.
A porta se abre e ela entra, sorrindo.
RACHEL
Desculpe a demora. O professor enrolou no final, sabe como é.
JAMES
Ah, claro que sei. Não se preocupe.
RACHEL
(se aproximando)
Tudo bem?
JAMES
Ótimo, tudo ótimo.
Ela lhe dá um beijo no rosto e vai em direção à mesa da professora, a maior, no canto, largando a mochila ali no chão e sentando na beira da mesa.
RACHEL
Você não tem o que fazer de tarde não?
JAMES
Além de atender a encontros em uma sala de aula? Não.
RACHEL
(ri)
Aqui não precisa pagar nenhuma conta.
JAMES
Entre pagar alguma conta e ter o que comer, escolho comer.
RACHEL
Gordo.
Os dois riem, um tanto tensos.
JAMES
Mas então... (longa pausa) Suponho que não me chamou aqui para conversar sobre comida.
RACHEL
Não.
JAMES
Nem sobre as tarefas de matemática.
RACHEL
Claro que não.
JAMES
Então...
RACHEL
Então?
JAMES
Que estamos fazendo aqui as sete da noite?
Silêncio.
RACHEL
Acho que você sabe.
JAMES
Eu nunca enxergo o óbvio.
RACHEL
Tente falar, com sinceridade, o que está sentindo.
JAMES
Perguntinha difícil.
RACHEL
James, por que diabos eu sinto que se ficasse com um garoto, estaria traindo você?
JAMES
(surpreso)
Não sei... porque estamos namorando? (ri)
RACHEL
Essa é a parte que me pega desprevenida.
JAMES
Isso é sobre você querer minha permissão para ficar com algum garoto?
RACHEL
Não, claro que não. Isso é sobre eu não ter dormido ontem à noite. (desce da mesa e vira de costas pra ele) É uma merda, sabia? Não fazer o que fazer. É uma grande merda ver filmes românticos e não saber distinguir o real da ficção, é uma merda não conseguir pensar em outra coisa, e achar que é minha imaginação, ao mesmo tempo tendo um medo estranho de que aquilo não seja real, na verdade, acreditando ridiculamente que aquilo só pode ser real.
James sente algo parecido a levar um tiro de canhão na barriga, sendo a bala um saco de gelo.
RACHEL
(vira e o observa)
Você sabe do que estou falando?
JAMES
De amor, eu acho.
RACHEL
Não! Estou falando de paixão, de algo que acaba, que é fútil e irreal, que dura uma hora e meia nos filmes e depois acaba.
JAMES
Eu não acredito nos filmes.
RACHEL
(hesita)
Nem eu.
JAMES
Então não entendi onde quer chegar.
RACHEL
Eu não sei onde quero chegar!
JAMES
Você está me confundindo.
RACHEL
Sou realmente confusa. (pausa) Na verdade, sou bem idiota. Uma garota idiota que não deveria estar falando essas coisas.
JAMES
Que coisas?
RACHEL
(vira de costas)
As coisas dos filmes.
James está tão confuso quanto Rachel, mas no fundo, já sabe onde quer chegar, mesmo sem saber o caminho.
JAMES
De que filmes?
RACHEL
(pensativa)
Hmmm, Titanic, Diário de uma paixão, Crepúsculo, essas coisas.
JAMES
Não me parece muito otimista.
RACHEL
Não é.
JAMES
Você... tem alguma ideia do que quer?
RACHEL
(pensa antes de responder)
Não. Não tenho a mínima ideia.
Hora de estufar o peito, James.
JAMES
Eu tenho.
RACHEL
Quê? (vira de novo e encara-o)
JAMES
Tenho vários pensamentos sobre o que eu quero.
Rachel quase deixa a boca cair, mas respira fundo, nervosa, querendo que ele chegue mais longe do que conseguiu ir.
JAMES
Ontem eu quase não dormi, porque estava quase tão confuso quanto você agora. OK, um pouco menos (sorri, e ela devolve o sorriso leve).
RACHEL
O que fez que conseguiu dormir?
JAMES
Eu percebi que estava fazendo piração com uma coisa simples. Pensei exatamente as mesmas coisas que você, como é uma merda que nos filmes as palavras saem tão facilmente, como é uma merda que sempre dá certo no final, que é tão simples e rápido. Ah, e a pior parte é ver uma cena de beijo. O filme que vi ontem tinha duzentos beijos por segundo, o que deve ser ótimo pro casal, mas pra mim não. Aí que está a melhor, ou pior parte. Eu ficava imaginando você.
RACHEL
Me imaginando?
JAMES
Em cada maldito beijo.
RACHEL
Uau.
JAMES
Isso saiu mas fácil do que eu pensava. Os filmes não mentem tanto, afinal.
RACHEL
Mas como sei se é real?
JAMES
Sabendo.
RACHEL
Sabendo?
JAMES
Não tem outro jeito. (longa pausa) Imagine que estamos no Titanic.
RACHEL
Tá, imaginei.
JAMES
Agora imagina o barco afundando e todo mundo morrendo, incluindo eu.
RACHEL
E eu?
JAMES
Você sobrevive, você é a Kate.
RACHEL
Não, não fala isso. Nunca mais fale em morrer de qualquer forma.
JAMES
É só uma hipótese.
RACHEL
(irritada)
Vai se ferrar com hipótese. Imagine então que estamos no Titanic e eu troco você por aquele riquinho lá.
JAMES
Por quê?
RACHEL
Porque eu amo ele.
JAMES
Mas se você é a Kate mesmo, você ama o viadinho do Leonardo DiCaprio.
RACHEL
Mas como eu sei disso?
JAMES
Talvez quando você posou nua pra ele, ou quando pulou do bote de volta pro navio só pra ver ele. Aquilo foi meio idiota da sua parte.
RACHEL
Mas se eu amo ele, faz sentido.
JAMES
Viu? O amor é estranho.
Eles silenciam-se mais uma vez.
James vira de costas e leva as mãos à cabeça, pensando no que mais pode dizer que não o torne tão ridiculamente ridículo.
Atrás dele, Rachel vai ficando mais tranquila a medida que as coisas vão se encaixando em sua cabeça.
RACHEL
Ei (ela chama e ele se vira). E se estamos apenas complicando tudo?
JAMES
Como assim?
RACHEL
Se o amor é assim tão complicado, impossível de colocar em palavras, por que tentar? Por que estamos falando tanto sobre isso, se não adianta falar?
JAMES
(sorri)
Continue.
RACHEL
Quero dizer que nem embarcamos no Titanic ainda. Estamos bem no começo do filme, estamos... nos apaixonando.
JAMES
(pensa bem antes de falar)
Não temos como negar isso.
Ouvir aquilo simplesmente ativa um sorriso iluminador em Rachel, tão deslumbrante e sincero que James quase nem sabe o que comentar.
Tudo simplesmente foi reduzido a simplicidade.
RACHEL
(aproxima-se)
Então, James, quer embarcar nesse navio gigante comigo?
JAMES
Se no final eu não morrer congelado, tudo bem.
Rachel ri.
JAMES
Vamos ver se no momento final você vai pular do bote.
RACHEL
Algo que me diz que eu pularia.
JAMES
É bom mesmo.
RACHEL
Um dia, eu quero poder te dizer aquelas três malditas palavras com toda minha sinceridade.
JAMES
Calma, chegaremos lá.
RACHEL
Chegaremos?
JAMES
É uma passagem só de ida.
RACHEL
(ri)
Vamos parar com as alusões ao cinema.
JAMES
Tudo bem. Apenas... vem aqui.
Ela chega perto, bem perto, abraçando-o.
Fecha os olhos, deixando a leveza do momento a inundar.
JAMES
Depois disso, como pode dizer que não sabe quando é real?
RACHEL
Que tal um passo à frente? (levanta a cabeça, quase encostando seus lábios no dele)
JAMES
Que tal dois?
Um toque sutil que ninguém vê.
Mas o que importa está ali, dentro de cada um deles. É algo que vão descobrir e desenterrar com o tempo, chegar lá no fundo, e levar aquilo que sentem à superfície.
Como sabemos se amamos?
Um dia, simplesmente sabemos.
ah... os filmes...sempre são como queríamos que fosse...mais a vida real é tudo mais complicado. ótimo texto...senti um pouco de mim nessa história
ResponderExcluirdesgraçado ! eu chorei pra crl ;x
ResponderExcluirPois é, na vida real é tudo beeem mais complicado...
ResponderExcluirAdorei o texto, tem um pouco de nós >.<
oapsakpsopk *-*
Beijos ♥
Incrível... foi fazer um texto desse para uma viciada em códigos. rs!
ResponderExcluirOs filmes são realmente mais fáceis. É tosco, mas é lindo.
Taí, acho que lindo e tosco são sinônimos.
Beeeijundas jackgenius!! /amei!