quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Charme Torto


- Eu não quero fazer isso. - sua voz quebrada ecoa no quarto grande.
Tudo está decorado, branco e vermelho, as pessoas lá fora estão ansiosas, prontas para gritar de alegria e nervosismo. A grande maioria das mulheres lá sabe como é estar na posição de Rose, que em alguns minutos deve aparecer ali na porta dupla, assim como a mesma quantidade de homens sabe como é estar no lugar de John, parado no altar, esperando sua amada.
Kate, a melhor amiga de Rose, estuda-a, não tão surpresa.
- Você não quer fazer isso. - ela repete com ironia. - Você poderia ter pensado nisso ontem, ou quando te pediu em casamento, mas não. Faltam cinco minutos para subir no altar, e você resolve pensar.
Rose apenas sorri, como se estivesse livre.
- Mas isso é ótimo! Você sabe como gosto de surpresas, Kate.
- Ah! - indignasse. - Se quer saber, ODEIO surpresas. E tenho certeza que John não vai ficar muito feliz em ser deixado no altar. O pai dele tem uma aptidão para caças com rifles, sabe do que ele é capaz?
- Quem disse que vou abandoná-lo no altar? - Rose fala calmamente.
Kate deixa cair os ombros, incrédula. Por cinco segundos, estuda Rose, sem conseguir falar, mas também sem conseguir fechar a boca.
- Por favor, explique-se. - finalmente diz com a maior calma possível.
- Não quero casar. Não quero que trezentas pessoas achem que porque estou usando uma aliança, serei feliz para sempre, não quero ter que assinar papéis, não quero, não quero. - repete como uma criança teimosa. - Eu amo ele. Só quero isso.
Sua melhor amiga solta um suspiro pesado e impaciente, levando a mão ao olhos, como se fosse arrancá-los.
- O que pretende fazer então? - novamente, com toda a calma do mundo.
- Que você acha de deixar trezentas pessoas esperando a comida que nunca chega, enquanto eu e ele estamos, sei lá, transando na minha casa?
Kate solta uma risada nervosa.
- Sexo tem na lua de mel.
- Pro inferno com a lua de mel.
- Por que pregar uma peça nessas pessoas é bom pra você?
- Porque é inesperado. Gosto disso.
- Hunf. - resmungou. - Pelo menos John vai se dar bem hoje.
- Foi uma brincadeira, vamos fugir sozinhos, mas não quer dizer que vamos transar.
- Você está se escutando? - riu.
- Ok, nós vamos.
Mais um suspiro pesado de Kate.
- Se quer fazer isso, eu chamo ele aqui, mas depois vou embora. Não quero ter que lidar com casais irritados e esfomeados hoje à noite.
- Espero que eles entendam.
- Pode apostar que não vão entender merda nenhuma, se nem eu entendo.
Dois segundos de silêncio, e as duas sorriem.
Kate abre a porta discretamente, e em um minuto ou menos, aparece de novo, com John seguindo-a com um olhar preocupado.
- O que aconteceu? - pergunta tenso.
- Ela nasceu. - responde Kate.
- Shh. - sorri Rose. - Olha, vamos sair daqui?
- Sair? - questiona. - Sair. - afirma, entendendo. - Por que não estou surpreso?
- Você me conhece. - brinca. - Que tal deixar essas pessoas esperando e ir fazer besteira por aí?
- Besteira? - sorri John.
- Sexo. - responde Kate. - Ignorem-me, estou na TPM.
O casal apaixonado se beija com paixão a flor da pele. As pessoas do outro lado já estavam suspeitando da saída do noivo - um homem brincou com a esposa dizendo "acho que ela vai abandonar ele, como você quase fez comigo." A história deles é engraçada. Uma mulher um tanto rabugenta resmunga para o marido "estou com fome." Ele ignora ela.

- Argh. - Kate força uma espressão de nojo ao beijo deles.
- Vamos correr pela cidade? - brinca John.
- Vamos. - Kate também brinca, mas aquela conversa de sexo que Kate trouxe a tona começou a interessá-la.
Eles abrem a outra porta do local, vendo a cidade. À sua frente, a escada pequena, cheia de flores claras no chão.
Correm, sorridentes, como crianças que fizeram arte e nunca foram pegas. Aos olhos alheios, não parecia, mas existia amor de verdade ali, nas duas peças tortas que se encaixavam perfeitamente. Kate larga o buquê no chão durante a corrida, correndo até sumir da vista de Kate, que observava da porta, incrédula, mas divertida.
- O amor é a coisa mais estranha do mundo. - sorri.

3 comentários:

  1. Um caal bem free né??

    "Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, e quem irá dizer que não existe razão?"

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  2. Ai, eu gostei, mto mto mto mto criativo,
    me diverti lendo isso.

    PS: Tô te perSEGUINDO
    e te indicando no meu blog

    bjs. e boa sorte no bloínquês!

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  3. O amor realmente é a coisa mais estranha do mundo .-.
    OAPSKASOAPSKASOK'
    ;**

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